sexta-feira, 7 de novembro de 2008

#12

Acordou num impulso. Tivera um pesadelo do qual não conseguia se recordar. E nem queria. O quarto estava escuro e a casa silenciosa, como era de se esperar àquela altura da noite. Entretanto aquela madrugada era diferente para ela. Seus sentidos estavam absorvendo o escuro e o silêncio com mais intensidade do que o normal.
Sentou-se e fechou os olhos, sem raciocinar o quão inútil era fazê-lo. Seu nariz estava entupido e sentia frio, apesar das cobertas. Agora já podia ouvir o barulho do vento lá fora enquanto seus olhos, novamente acordados, iam aos poucos se acostumando com a escuridão.
Sua garganta estava áspera e suas costas ardiam. E o ar gelado que vinha pelos minúsculos vãos da janela não ajudava em nada essa sua incontrolável fadiga. Virou o pescoço para os dois lados e colocou os braços para trás, tentando alongar-se de uma forma estranha.
Apertou o botão do celular. Duas horas e dezesseis minutos de uma madrugada cansativa. Daquelas bem típicas, nas quais acordamos com a certeza de que já dormimos demais. Ela estava assim, sendo que nem havia dormido nada ainda. Esperou. Para ela já se tinham passado uns vinte minutos, quando na verdade foram apenas quatro.
Ajeitou-se no travesseiro. Fechou os olhos tentando chamar o sono mais uma vez. Sentiu que uma luz tinha acendido bem à sua frente e em um reflexo natural acordou-os novamente. A proteção de tela de seu celular tinha se ativado automaticamente: uma foto sua com seu namorado, que não tardou a piscar e desaparecer. A imagem, entretanto, continuava em sua mente. Agora ela poderia dormir um pouco mais feliz e tranqüila. E com a certeza de que teria bons sonhos.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

#11

Estou indo embora, eu preciso ir.
E preciso ir agora. Sei que é a hora de partir.

Não consigo mais permanecer aqui.
Impotente perante seu resplendor.
Me incomoda, me atinge. Profunda e diretamente,
essa sua perfeição.
Idealizada por mim, é verdade, mas por mim
amargurada. Sofrida. Suportada.

Meu lado racional, ou o que ainda resta
dele, tenta me avisar. Mas eu não quero
ouvir.
Porque de repente sinto seu cheiro.
Entorpecente, inebriante. Insuportável.

Não mais consigo suportar meu peso,
minhas pernas começam enfim a ceder ao
meu desejo. De cair.
Eu quero cair.
Para não mais levantar.

Há algum tempo estou merecendo levar um tombo,
daqueles que não conseguimos nos recuperar.
Teimosia, o meu problema.

E eu não acho que alguém possa entender.
É estranho. Doentio.
Mas continuarei, sei que continuarei.
Eternamente. Incondicionalmente.
Ainda que o eterno não exista e a condição
seja limitada.

domingo, 2 de novembro de 2008

Procura-se um amigo.

Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor.. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.
Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoa tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.
Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.
Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.
alguém se candidata? oi?